Uma das últimas sobreviventes dos Avá-canoeiros está internada no hospital Centro-Norte Goiano, administrado pelo Instituto de Medicina, Estudos e Desenvolvimento – IMED.
O Hospital Estadual do Centro-Norte Goiano (HCN), recebeu na sexta (28/04) uma paciente que não fala português e vem de um ambiente cultural singular: a indígena Nakwatcha, de 78 anos, uma das últimas cinco sobreviventes em Goiás da etnia Avá-canoeiros. Nakwatcha está em tratamento para investigar sintomas de um câncer, acompanhada pelos dois sobrinhos, que são intérpretes e zelam de perto pelos cuidados com a anciã.
Todo o tratamento da paciente indígena foi adaptado segundo suas necessidades biológicas e, principalmente, culturais. Uma das mudanças que aconteceu foi a instalação de uma rede no quarto da paciente. Ela estava inicialmente apática na cama do hospital, após avaliação da equipe multidisciplinar a troca foi feita e esse gesto foi suficiente para trazer mais conforto e tranquilidade à indígena.
O diretor assistencial do HCN, unidade administrada pelo Instituto de Medicina, Estudos e Desenvolvimento – IMED, João Batista Cunha, relata que antes da mudança ela não estava reagindo bem ao ambiente. “Ela não falava nada, parecia irritada e estava apática na cama, mas se sentiu mais à vontade ao mudar da cama para a rede. Depois que foi pra rede falou com o cacique, foi ao banheiro com ajuda e se acomodou na rede novamente”, destacou. Outras adaptações foram feitas, como o acesso da família e a alimentação.
Até a possibilidade de fazer uma pequena fogueira no lado externo do hospital está sendo avaliada, pois essa seria uma forma de falar com os ancestrais, segundo a cultura Avá. A equipe da unidade também fica atenta para não tocar no cajado da paciente, pois não é permitido.
Nakwatcha segue internada, continua em avaliação e realizando os exames necessários para o diagnóstico e continuidade dos protocolos requeridos em seu caso. O acolhimento humanizado, com as adequações necessárias para a sua internação, bem como a utilização de uma abordagem clínica e profissional mediada interculturalmente, respeitando e inserindo no cuidado em saúde os valores e costumes de seu povo, demonstram a responsabilidade da gestão em saúde do Estado ao promover o acesso dessas populações nos serviços do SUS.
A família de Dona Nakwatcha ficou emocionada com a recepção e o tratamento oferecido pelo HCN. Os sobrinhos da paciente, que falam português, conversaram com o diretor da unidade. Os parentes relataram que pela primeira vez, viram e sentiram respeito pelo seu povo no tratamento da saúde e se emocionaram quando a equipe do hospital ajudou a paciente a mudar da cama para a rede.
Uma representante da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) esteve presente, acompanhando de perto todo o processo, e elogiou o atendimento oferecido pelo HCN. “O choque cultural é enorme, mas o nosso aprendizado é muito maior. Foi perceptível como a paciente ficou mais à vontade ao mudarmos ela da cama para a rede” completa o diretor do hospital.
Por se tratar de uma situação de cuidado em saúde especial dessa guerreira do povo Avá Canoeiro, a gerente de Atenção a Populações Específicas, Ana Maria Passos Soares, e o Coordenador de Promoção da Equidade e Interculturalidade em Saúde, Wiley Pereira da Silva, estiveram no hospital para uma reunião com o núcleo familiar da indígena, junto com técnicos da FUNAI e com o Diretor do HCN. Foi mantida também a interlocução com o Coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena Araguaia (DSEI-Araguaia), Labé Iny, responsável pela equipe de saúde que atende essa comunidade na aldeia.
Assessoria de Comunicação do HCN
Victor Weber – victor.weber@ecco.inf.br